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“A felicidade, ecologia e unidade intercultural para a integração do mundo” foi o tema da palestra do monge Drupon Lama Dorje, realizada nesta quinta-feira (13/6), no campus Sorocaba da PUC-SP. O evento integra o Ciclo de Entrevistas da Faculdade de Medicina.
Na manhã desta quinta-feira, 13/6, o auditório Pacaembu, no campus Sorocaba da PUC-SP, recebeu o monge tibetano Drupon Lama Dorje para mais uma edição do Ciclo de Entrevistas promovido pela Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde (FCMS). Diante de docentes e alunos e comunidade da cidade, Lama Dorje falou sobre saúde, felicidade e consciência humana a partir da perspectiva budista. “A saúde dos humanos não é só física. Quando os seres estão saudáveis, podemos fazer muitas coisas”, afirmou.
A abertura oficial do evento foi realizada pelo professor-doutor Ricardo Cadaval, docente da instituição, que destacou a importância da proposta para a formação médica integral: “Com grande satisfação, iniciamos mais uma edição do Ciclo de Entrevistas da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da PUC-SP, uma iniciativa que nasceu com um propósito claro: expandir os horizontes da formação médica para além do conhecimento técnico, e convidar nossa comunidade e sociedade a refletirem sobre o sentido mais profundo do cuidado, da escuta e da presença, para além da técnica e da ciência, rumo às dimensões mais humanas, éticas e espirituais da medicina e da vida.”
Ao apresentar o convidado, Cadaval completou: “Hoje, temos a honra de receber um convidado muito especial, uma pessoa que nasceu entre montanhas sagradas, onde o céu parece conversar com a terra. Alguém que fala de algo que está dentro de cada um de nós, um mestre do coração, um peregrino do espírito, alguém que carrega consigo a sabedoria milenar dos Himalaias, e que tem dedicado sua vida ao despertar da consciência, à compaixão ativa e à construção da paz por meio do diálogo entre culturas e por uma vida mais consciente.”
Com sua fala calma e precisa, o monge explicou que o budismo não é uma religião no sentido estrito, mas uma filosofia de vida que busca despertar a consciência individual para a felicidade coletiva. “O objetivo é tornar os seres humanos felizes, para que possam servir à humanidade de forma altruística”, disse. Para ele, a base da vida é a pureza — tanto da mente quanto das intenções.
Durante a palestra, Dorje destacou a importância de uma visão ampliada da saúde, que considere os contextos físicos, emocionais e mentais. “Pouca gente cuida da saúde mental e emocional. A saúde física interfere na emocional e vice-versa”, lembrou. A mente, segundo ele, tende a vagar entre passado e futuro, raramente permanecendo no presente — o que, somado à ausência de consciência, gera sofrimento e desequilíbrio. “Uma mente não purificada leva a aflições, afeta a nós mesmos, nossas relações e toda a vida na Terra.”
A interdependência foi outro conceito central da exposição. “O planeta Terra é nossa casa sagrada, nossa grande casa. Qualquer coisa afeta todos nós. Por isso precisamos agir conscientemente”, pontuou. Para o monge, essa conexão exige responsabilidade: cuidar do ambiente e dos outros seres não é um ideal abstrato, mas uma urgência ética e prática.
Crítico à ênfase exclusiva no “eu” individualista, Lama Dorje afirmou que o mundo atual carece de amor e compaixão, considerados por ele os maiores remédios disponíveis. “Quando estamos apegados ao ‘eu’, não há felicidade.” Ele defendeu que o desenvolvimento dessas qualidades não tem relação direta com religiosidade, mas com a própria saúde e bem-estar humano. “Olhar para a nossa mente e conectar-se ao coração é o caminho da felicidade permanente.”
Segundo o monge, apenas o acúmulo de informações e teorias não é suficiente: “As teorias não mudam a vida. O importante é incorporar os conceitos e torná-los hábitos.” Ele incentivou a plateia a ver as dificuldades da vida como oportunidades de aprendizado. “Situações difíceis são como professores e sempre nos ensinam algo.”
Ao ser questionado sobre a morte de prematuros, bebês e crianças — uma realidade comum para profissionais da área médica — Lama Dorje abordou conceitos clássicos do budismo: a lei da impermanência e o carma. “A morte não tem idade”, afirmou. Para ele, entender a vida como um processo interligado e sujeito à causa e efeito é essencial para lidar com o sofrimento. “A confusão, o apego, a ambição e a raiva são três venenos que afetam nossa saúde, nossos relacionamentos e a vida da Terra.”
Nascido no vilarejo de Limi, no Himalaia, a cinco mil metros de altitude, Drupon Lama Dorje tornou-se monge tradicional aos cinco anos de idade, pela linhagem Drikung Kagyu. Aos 24, realizou um retiro solitário de quatro anos nas montanhas da Índia. Desde então, sua missão tem sido expandir o Darma de Buda pelo mundo. Já morou no Chile por três anos, esteve em diversos países da América Latina e, mais uma vez, visitou o Brasil.
Sua atuação combina tradição e contemporaneidade: escreve livros, compõe músicas e conduz retiros espirituais. Em 2018, foi oficialmente certificado como “Drupon” (mestre de retiro) por Drikung Kyabgon Chetsang.
O Ciclo de Entrevistas, idealizado pelo professor-doutor Jorge Henna, atual coordenador do curso de Medicina da PUC-SP, é uma iniciativa que busca ampliar a formação dos alunos para além do conteúdo técnico. “Há uma carência de atividades culturais na maioria das escolas médicas do Brasil. Com esta iniciativa, damos um passo para reparar, mesmo que minimamente, esta realidade”, afirmou Henna.
Com a presença de figuras como Lama Dorje, o ciclo reforça a necessidade de uma medicina mais humana, espiritualizada e conectada com as realidades múltiplas dos pacientes — e do planeta.