Coordenadora da PUC-SP explica os avanços nos cuidados com recém-nascidos e o papel da residência em Enfermagem Obstétrica e Neonatal
Receber um recém-nascido em casa é motivo de alegria e, claro, um universo de descobertas e inseguranças. Basta um choro inesperado para surgirem perguntas: é fome, sono, desconforto ou apenas vontade de colo? Nesse turbilhão dos primeiros dias, cada decisão parece pequena, mas é importante — e, junto dela, surgem inúmeras dúvidas. Para mostrar o que mudou nos últimos anos e ressaltar o papel dos profissionais especializados, a professora-doutora Janie Maria de Almeida, que coordena os Programas de Residência em Enfermagem Obstétrica e Neonatal da PUC-SP, explica as principais novidades nos cuidados com os recém-nascidos.
A voz de quem entende
Antes de tudo, vale lembrar que buscar informações na internet – isto é, consultar o famoso “Dr. Google” – pode ser arriscado, principalmente quando se trata da saúde de um recém-nascido. Como ressalta a professora Janie, a melhor forma de garantir segurança é recorrer a fontes confiáveis: médicos, enfermeiros obstetras e enfermeiros neonatais, que estão preparados para orientar cada situação com base em evidências científicas atualizadas.
É nesse contexto que as residências multiprofissionais, como as de Enfermagem Obstétrica e Neonatal, ganham papel de destaque. Elas formam especialistas capazes de prestar uma assistência qualificada e humanizada, alinhada às recomendações mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e às políticas nacionais de saúde materno-infantil. Além de cuidar, eles também realizam ações educativas junto às famílias, ajudando a reduzir práticas inadequadas e garantindo maior segurança para mães e bebês.
Sono do bebê
Até meados dos anos 90, era comum colocar os bebês para dormir de bruços, acreditando que isso evitaria engasgos. No entanto, estudos comprovaram que essa prática aumenta o risco de Síndrome da Morte Súbita Infantil. Desde 1994, a campanha internacional Back to Sleep recomenda que os bebês durmam sempre de barriga para cima, em um berço seguro e sem travesseiros, cobertores soltos, brinquedos ou protetores laterais.
Outra orientação importante é manter o colchão firme, o bebê bem posicionado e evitar superfícies macias, como camas ou sofás. O quarto deve ser arejado, e o compartilhamento de cama não é seguro, embora o bebê possa dormir no mesmo quarto dos pais.
Profissionais treinados, como os residentes em Enfermagem Obstétrica e Neonatal, têm papel indispensável ao orientar as famílias, esclarecer dúvidas e desmistificar crenças transmitidas por gerações, garantindo um sono mais seguro para o bebê.
Cuidados com o cordão umbilical
Hoje, sabemos que o melhor cuidado com o cordão umbilical é deixá-lo limpo e seco, sem usar produtos. Esse cuidado simples ajuda na cicatrização natural e evita irritações.
O enfermeiro pode orientar a família sobre como limpar corretamente, explicar quais sinais de alerta observar (como vermelhidão, mau cheiro ou febre) e oferecer apoio sempre que houver dúvidas. Assim, garante-se mais segurança para o bebê e tranquilidade para os pais.
Vacinação
O Calendário Nacional de Vacinação garante a imunização contra doenças graves como tuberculose, hepatite B, poliomielite e coqueluche. Entretanto, dúvidas sobre reações, intervalos e importância das doses ainda geram insegurança entre pais. É papel dos profissionais reforçar orientações claras, estimular a adesão e combater as informações falsas.
Bem-estar emocional
Outro avanço é a valorização do cuidado centrado no vínculo afetivo. Sabe-se que atender às necessidades emocionais do bebê é tão essencial quanto suprir as físicas. Estímulos como contato pele a pele, amamentação sob livre demanda e respostas sensíveis ao choro são estratégias que fortalecem a confiança e promovem um desenvolvimento saudável.
As residências em Enfermagem Obstétrica e Neonatal capacitam profissionais para atuar nessa dimensão humanizada da assistência, ensinando famílias a reconhecer os sinais do bebê e a construir um ambiente seguro e acolhedor.
Por que a residência em Enfermagem faz a diferença?
Cada uma dessas mudanças reflete um avanço científico que, para chegar às casas das famílias, precisa começar na assistência oferecida ainda na maternidade e no pré-natal. É nesse contexto que a residência em Enfermagem Obstétrica e em Enfermagem Neonatal se torna relevante: ela forma profissionais preparados para aplicar as melhores práticas desde a gestação, o parto e nascimento, assegurando cuidados seguros, humanizados e baseados em evidências científicas.
Mais do que um estágio avançado, a residência é o elo entre teoria e prática, garantindo que mães e bebês recebam, em todas as fases – da internação ao retorno para casa – atenção qualificada, acolhimento e orientações que promovem saúde e bem-estar.
Como pontua a professora Janie: “Os primeiros dias de vida são uma janela crítica para a saúde e o bem-estar da criança. Ter enfermeiros obstetras e neonatais preparados faz diferença não só na prevenção de complicações, mas também no apoio emocional às famílias. Nossa missão é formar especialistas capazes de unir técnica, sensibilidade e evidência científica em cada cuidado prestado”.