Tratamento cirúrgico para depressão resistente é promissor, mas deve ser visto com reserva, aponta professor da PUC-SP

por Redação | 08/09/2025

Apesar do destaque recente na mídia, a cirurgia de estimulação cerebral profunda com quatro eletrodos — aplicada no caso da colombiana Lorena Rodríguez, 34 anos, que conviveu com depressão resistente por mais de duas décadas — ainda não possui aprovação da agência reguladora dos Estados Unidos (FDA). A intervenção deve ser encarada com prudência, afirma o neurologista Sandro Blasi Espósito, professor assistente doutor do curso de Medicina da PUC-SP.

O procedimento foi realizado em abril, em Bogotá, pelo neurocirurgião colombiano William Contreras. A técnica envolve a implantação de eletrodos na região subgenual do córtex cingulado (SCG25) — área associada à regulação do humor e de emoções negativas — e no braço anterior da cápsula interna, um feixe de fibras responsável pela comunicação entre circuitos do pensamento racional e regiões cerebrais envolvidas no processamento emocional, como o núcleo accumbens.

Contudo, o professor da PUC-SP pondera que uma eventual falha aguda no hardware pode resultar na recorrência de sintomas, assim como levar a eventos adversos graves. “A segurança do paciente é uma prioridade máxima na neuromodulação”, alerta.

Depressão

A depressão afeta mais de 300 milhões de pessoas no mundo e figura como a principal causa de incapacidade global, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). O impacto do quadro se agravou com a pandemia de Covid-19, que provocou um aumento superior a 25% na prevalência da doença já no primeiro ano da crise sanitária. No Brasil, estima-se que cerca de 15% da população conviva com o transtorno, de acordo com dados do Ministério da Saúde.

Estimulação cerebral profunda

Em setembro de 2024, a Abbott anunciou o início do estudo clínico Transcend, autorizado pela FDA, com o objetivo de avaliar a eficácia do seu sistema de estimulação cerebral profunda (ECP) no tratamento da depressão resistente — uma forma severa do transtorno depressivo maior. A iniciativa representa um avanço na busca por alternativas terapêuticas para pacientes refratários às abordagens convencionais.

A técnica, contudo, não é inédita na medicina. “A estimulação cerebral profunda já conta com aprovação para outras condições neurológicas, como doença de Parkinson, tremor essencial e transtorno obsessivo-compulsivo”, afirma Espósito. O tremor essencial, detalha ele, é um distúrbio comum caracterizado por tremores involuntários que afetam principalmente as mãos, mas também podem comprometer a voz, a cabeça e os membros inferiores.

Esperança

Avanços em técnicas de neuroimagem devem aprimorar a identificação de alvos cerebrais e permitir a verificação mais precisa dos efeitos fisiológicos induzidos pela estimulação. No entanto, a base científica ainda é considerada incipiente: uma meta-análise publicada em 2024 na revista Biological Psychiatry: Cognitive Neuroscience and Neuroimaging aponta que os estudos controlados sobre o tema permanecem escassos.

“A boa notícia é que, nos últimos anos, as oportunidades de utilizar tecnologia para modular os circuitos cerebrais e influenciar o comportamento humano cresceram exponencialmente. Esses avanços deram origem ao campo dos chamados ‘eletrocêuticos’, como a ECP”, finaliza o professor da PUC-SP.

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