Geração Z e Millennials lideram consumo de medicamentos para saúde mental no Brasil

por Redação | 25/06/2025

Profissionais das gerações Z (nascidos entre 1997 e 2012) e Y, os chamados Millennials (1982 a 1996), lideram o aumento no consumo de medicamentos voltados à saúde mental — como antidepressivos e ansiolíticos — no ambiente corporativo brasileiro. A conclusão é de um estudo da Vidalink, empresa especializada em planos de bem-estar, que analisou 273.626 unidades de medicamentos consumidas por 58.949 colaboradores de 165 empresas, cujos benefícios corporativos subsidiam de 50% a 100% dos custos.

Em 2024, a geração Z registrou o maior crescimento: alta de 7,9% no número de usuários e de 6,6% no volume de medicamentos distribuídos. Entre os Millennials, o avanço foi de 6,8% e 5,6%, respectivamente. Em contraste, as gerações X (1965 a 1980) e os Baby Boomers (1946 a 1964) apresentaram queda no consumo, entre 3% e 5%, a depender da faixa etária.

Dois lados da mesma moeda

Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) mostram que, entre os Millennials, as consultas psiquiátricas no Sistema Único de Saúde (SUS) cresceram 34%. Para o psiquiatra e coordenador do curso de Medicina da PUC-SP, professor-doutor Jorge Henna, esse aumento tem dupla interpretação. “Este fato pode ser visto muito mais positivamente que o oposto, pois essa estatística indica que os estigmas psiquiátricos vêm sendo reduzidos. Contudo, depreende-se desses números, também, o fato de que os índices psicopatológicos dos jovens têm aumentado em escalada importante”.

Henna ressalta que parte desse cenário pode ser atribuída a efeitos pós-pandemia, embora ainda faltem estudos robustos que comprovem essa relação de forma definitiva. Outro fator relevante, segundo ele, é a maior disposição das gerações mais jovens em discutir e buscar tratamento para questões emocionais. Se, por um lado, isso impulsiona avanços no cuidado com a saúde mental, por outro, também contribui para o aumento nos diagnósticos e, consequentemente, no uso de psicofármacos.

Millennials ainda lideram em números absolutos

Apesar do crescimento percentual mais acelerado entre os profissionais da geração Z, os Millennials seguem como o grupo com maior número absoluto de usuários de medicamentos para saúde mental. Isso reflete a fase da vida em que se encontram: muitas vezes, no auge da carreira, com maior peso de responsabilidades profissionais e familiares.

As mulheres desse grupo são as mais impactadas. Dados do Check-up de Bem-Estar 2024 mostram que 44% das mulheres Millennials enfrentam sobrecarga diária devido à dupla jornada — trabalho formal e tarefas domésticas, incluindo cuidado com filhos e pais idosos. Esse contexto eleva significativamente o risco de esgotamento mental.

O cenário é corroborado por dados do Ministério da Previdência, que apontam que 64% dos afastamentos por transtornos mentais no Brasil envolvem mulheres, cuja idade média é de 41 anos. O levantamento da Vidalink reforça: mulheres têm uma propensão 79% maior ao uso desses medicamentos em relação aos homens, e o aumento no consumo feminino em 2024 foi 2,5 vezes superior ao observado no público masculino.

Perspectivas pouco promissoras

“O futuro será pior”, alerta Henna. “Ao mesmo tempo em que vemos maior acesso à informação, também observamos mais acesso à desinformação”, pontua. Ele chama atenção para a influência negativa de criadores de conteúdo despreparados, que disseminam mensagens distorcidas sobre saúde mental. “Não há verdade nenhuma nas promessas de alguns influencers que são, praticamente, ‘profetas do apocalipse’. Essas inverdades são traduzidas nos Millenials como derrotas e autoinsuficiências, levando-os aos consultórios e, consequentemente, aos ansiolíticos e antidepressivos.”

O aumento no consumo de psicofármacos entre gerações mais jovens pode indicar avanços na consciência sobre saúde mental, mas também chama atenção para a persistência de falhas no ambiente de trabalho e nas redes de apoio. O esgotamento profissional — caracterizado por burnout, estresse exagerado e falta de suporte — é citado como catalisador do consumo de ansiolíticos e antidepressivos. Soma-se a isso o próprio uso intensivo de redes sociais: gatilho frequente para ansiedade, insegurança e fadiga emocional.

Solução exigem resposta coletiva e estruturada

Para evitar que o aumento no uso de medicamentos se torne crônico, especialistas alertam para a necessidade de ações integradas: ambientes laborais mais humanos, políticas públicas eficazes e a ampliação de cuidados além do modelo farmacológico. Programas de apoio psicológico, mecanismos de prevenção ao burnout e cultura organizacional que valorize o equilíbrio entre vida pessoal e profissional são apontados como urgentes.

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